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A diabetes e a gravidez

Algumas mulheres desenvolvem a chamada diabetes gestacional durante a gravidez, enquanto quem já sofre da doença tem de preparar muito bem a gestação.

Tal como acontece com a diabetes tipo 2, a diabetes gestacional (condição clínica que surge na gravidez) tem vindo a aumentar devido às mudanças de estilo de vida da sociedade moderna. «Há uma prevalência de cerca de 7,2 % de diabetes gestacional em Portugal, segundo dados de 2015, e, em determinados grupos de doentes, temos uma prevalência superior, de cerca de 16 %, especialmente se falarmos de grávidas com idades superiores a 40 anos», diz Sónia Pratas, endocrinologista no Hospital CUF Sintra e no Hospital CUF Torres Vedras.

 

Ainda não se conhecem todas as causas da diabetes gestacional. No entanto, como explica a endocrinologista, «sabe-se que a gravidez é um período de resistência dos tecidos à insulina, de produção de hormonas ditas diabetogénicas e de aumento das necessidades de insulina e algumas mulheres não conseguem obter uma resposta compensatória a todas estas alterações». A melhor maneira de evitar o aparecimento de diabetes durante a gravidez é, sobretudo, controlar o peso através de adoção de medidas nutricionais adequadas e da prática de exercício físico. Estas medidas devem ser implementadas logo na fase da preconceção e devem ser mantidas durante todo o período gestacional.

A diabetes e a gravidez

Diagnóstico e tratamento

 

O diagnóstico é feito através de uma análise (teste de tolerância à glicose), que, caso não se apresentem fatores de risco, é feita apenas no segundo e terceiro trimestres da gravidez. Depois do diagnóstico, «as primeiras orientações terapêuticas a serem implementadas são as medidas nutricionais e de atividade física, se não houver contraindicação», refere Sónia Pratas. Caminhadas de passo rápido, natação, pilates, yoga e exercícios aeróbios de intensidade moderada – sobretudo nas pessoas que o já realizavam – são algumas das modalidades recomendadas pela endocrinologista. A par disso, diz Sónia Pratas, «é essencial fazer avaliações diárias da glicemia para otimizar o tratamento. Quando os objetivos glicémicos não são atingidos, apesar do plano nutricional adequado e da atividade física, é preconizado, em simultâneo, o tratamento com fármacos, destacando o papel importante e fundamental da metformina e da insulina».

 

Perigo para o bebé

 

No que diz respeito ao bebé, os perigos são «o aumento de tamanho fetal (macrossomia), que condiciona um risco acrescido para o desenrolar de um parto não “normal”; alterações de determinados órgãos vitais, como o fígado e o coração, que se mantêm no período pós-natal, e, não menos importante, níveis de glicose muito baixos no período neonatal, que poderão ter consequências nefastas para o sistema nervoso central do recém-nascido. A longo prazo, o risco de virem a desenvolver obesidade ou mesmo diabetes mellitus é maior.»

 

Geralmente, a diabetes gestacional desaparece após o parto, mas em alguns casos isso não acontece. Daí que seja «importante fazer uma reavaliação laboratorial cerca de 2 meses depois do parto», realça a especialista. Caso a diabetes não persista, todas as mulheres devem manter o estilo de vida saudável adotado após o diagnóstico e «alertar o seu médico assistente para a vigilância clínica e laboratorial, no âmbito dos grupos de risco para a diabetes tipo 2», diz Sónia Pratas.

 

E quem já tem diabetes

 

Deixemos agora a diabetes gestacional e concentremo-nos nas mulheres com diabetes tipo 1 ou 2 que pensem em engravidar. Estas «deverão ter a preocupação de fazer uma avaliação pré-concecional com o intuito de reduzir riscos para si, para o feto e para o recém-nascido». Essa avaliação, acrescenta a especialista, passa por «conhecer o seu controlo metabólico (ou seja, os níveis de glicemia diários) e estabelecer alvos glicémicos em função do seu perfil e das complicações crónicas, se existentes. Por outro lado, é importante ajustar, se necessário, a terapêutica que fazia. A hipertensão coexiste muitas vezes com a diabetes, estando associada às complicações renais na tipologia 1 e sendo uma comorbilidade muito frequente na diabetes tipo 2. Assim sendo, os valores de tensão arterial devem também estar otimizados antes da gravidez».

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Riscos duplos

 

No período de gestação, em mulheres com diabetes tipo 1 e tipo 2, «além das medidas farmacológicas já ajustadas a cada uma, é importante salientar a terapêutica nutricional adequada, tal como reforçar a importância da atividade física, determinantes para o controlo do peso e controlo glicémico», informa Sónia Pratas. Convém ainda ter a tensão arterial controlada, caso contrário «acarreta um conjunto de riscos como pré-eclâmpsia (hipertensão na gravidez) e agravamento de complicações renais ou oftalmológicas já existentes, pelo que é outro parâmetro muito relevante na avaliação clínica durante a gravidez». Quem já toma insulina, diz Sónia Pratas, deve mantê-la e, muitas vezes, o tratamento tem de ser intensificado.

 

Tanto as mulheres com diabetes tipo 1 como com tipo 2, quando não adequadamente controladas, apresentam riscos tanto para as próprias, como para o bebé. No primeiro caso, existe, como refere a endocrinologista, «risco de aborto espontâneo, pré-eclâmpsia e parto pré-termo»; no segundo, incluem-se «malformações fetais, macrossomia, parto traumático ou hipoglicemia neonatal». Contudo, «uma gravidez bem-sucedida também está ao alcance da mulher com diabetes. A importância da vigilância adequada e de um rigoroso controlo dos níveis de glicemia são determinantes do sucesso da gravidez», remata Sónia Pratas.

Fatores de risco

Quem tem maior probabilidade de ter diabetes gestacional:

 

  • Ter mais de 35 anos;
  • Ser obeso;
  • História de diabetes gestacional em gravidezes anteriores;
  • Ter tido recém-nascidos anteriores com peso superior a 4 kg;
  • História familiar de primeiro grau com diabetes;
  • Pertencer a algumas etnias, nomeadamente do Sudeste Asiático, latinas e norte-africanas;
  • Ter síndrome do ovário poliquístico ou acantose nigricans (dermatite caracterizada por espessamento e hiperpigmentação da pele).

 

Referências
  • Revista Saber Viver

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