Pub
Pub
artigo
imprimir

Crescer com a diabetes

A diabetes é uma doença para a vida. Com ela devemos aprender a conviver a partir do diagnóstico. Mas como responder aos desafios que se apresentam quando o diagnóstico surge na infância? Fique a conhecer quais os tipos de diabetes mais frequentes nas crianças e como, apesar da doença, é possível que elas cresçam de forma saudável.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os números da diabetes infantil têm aumentado em todo o mundo. Nestas idades falamos de diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2. Mas enquanto que a diabetes tipo 2 pode ser associada a fatores de risco como o excesso de peso ou o sedentarismo, no caso da diabetes tipo 1 não se conhece a sua origem. Esta forma de diabetes pode aparecer em qualquer idade, mas é mais frequente em crianças dos 5 aos 6 anos e também entre os 11 e os 13.

Fatores associados à diabetes tipo 1

A medicina aponta para alguns fatores como a hereditariedade, a genética, ou à exposição a um vírus, apesar de não existirem certezas. Mas conhece-se como ocorre. A insulina é uma hormona essencial para a metabolização da glicose, ou seja, para que o organismo consiga transformar o açúcar proveniente dos alimentos, em energia. Esta insulina é segregada por células especializadas no pâncreas denominadas ilhotas. Por razões que se desconhecem, o sistema imunitário do sangue destrói essas ilhotas, o que significa que o organismo deixa de conseguir processar esse açúcar, provocando um aumento dos níveis de glicose. As consequências não demoram muito a fazerem-se sentir.

Crescer com a diabetes: sinais de alarme

Sede

Um dos primeiros sintomas é a sede. Depois, uma vez que o açúcar não é processado, acumula-se no sangue até ser eliminado pelos rins. Isto conduz a mais idas à casa de banho e, mesmo em crianças que já são autónomas, a micção noturna involuntária. O apetite aumenta, mas nada parece satisfazer. Aliás, mesmo que coma mais do que o habitual, a criança pode mesmo perder peso. E sente-se cansada, irritada, e não parece a mesma.

Hálito a fruta

Outro sintoma curioso é o hálito a fruta. Por urinar com muita frequência e em maior quantidade, os casos de desidratação podem constituir uma emergência médica. Além da indução de fluidos por via intravenosa, a criança vai precisar de insulina. Provavelmente, para toda a vida.

 

Importância do diagnóstico precoce

 

De acordo com dados da International Diabetes Federation (IDF), a nível global há mais de um milhão de pessoas com menos de 20 anos com diabetes tipo 1. Em Portugal, e de acordo com dados de 2016 do Observatório Nacional da Diabetes, havia 3327 jovens com menos de 19 anos com diabetes tipo 1. O diagnóstico precoce da diabetes tipo 1 é importantíssimo. Além de evitar o risco de vida no imediato, permite suavizar o impacto da doença a longo prazo, uma vez que constitui um fator de risco para doenças cardiovasculares (hipertensão, acidente vascular cerebral, doença cardíaca), lesões nos nervos (neuropatia), rins (doença renal), olhos (retinopatia) e ossos (osteoporose).

 

Dupla estratégia e comunicação

 

Após o diagnóstico da diabetes tipo 1, o médico irá traçar um plano de terapêutico com uma dupla estratégia: por um lado, a toma de insulina (por injeção ou através de uma bomba de insulina); por outro, a medição dos níveis de açúcar no sangue (glicémia).

Importância da alimentação

Fundamental é também ter, por um lado, atenção à alimentação, sobretudo, à ingestão de carboidratos, assim como traçar um plano para a prática de atividade física, cerca de 30 minutos por dia, e com especiais cautelas para a medição dos níveis de glicose antes do exercício.

 

Lidar com o diagnóstico

Um diagnóstico de diabetes tipo 1 não é fácil de encaixar, quer para os pais, quer para a criança. É uma doença que os vai acompanhar para a vida e que implica uma série de alterações no quotidiano da família. Cabe aos pais dar a conhecer a doença à criança e a reforçar que esta é uma doença com a qual é perfeitamente possível conviver. Para tal, é fundamental que os pais desenvolvam um elevado grau de literacia sobre a diabetes.

artigo

Dicas para gerir a diabetes do filho

Desafios da diabetes

 

O impacto de um diagnóstico de diabetes implica uma série de desafios, a vários níveis, que devem ser compreendidos e incorporados no quotidiano da criança. Do ponto de vista médico, é fundamental integrar na rotina a medição dos níveis de glicémia e da toma de insulina. Se nos primeiros tempos, e em casos de crianças mais novas, tenham de ser os pais a efetuar essa gestão e controlo, é fundamental que, progressivamente, seja construída uma autonomia, que passa não só pela medição de glicémia e toma de insulina, mas também pela tomada de consciência que essa autonomia deve ser integrada na normal emancipação decorrente do desenvolvimento da criança, sobretudo quando chega a adolescência.

Conselhos para os pais

A superproteção dos pais pode ser um entrave à «vida normal», e podem surgir conflitos. O desafio, a este nível para os pais, é saber negociar sem abdicar da supervisão. Nesse sentido, é importante que o contexto familiar forneça espaços de escuta para desbloquear dificuldades, medos e curiosidades.

Por outro lado, e tendo em conta que a criança passa várias horas por dia na escola, é fundamental que os pais partilhem o plano terapêutico com o pessoal docente, administrativo e auxiliar. A escola, também deve incorporar a gestão da diabetes no seu contexto.

Apoio e supervisão do tratamento

No que diz respeito ao apoio e supervisão da manutenção do tratamento, cada caso é um caso, dependendo do grau de autonomia do aluno com diabetes e da sua escolha em partilhar a doença com os pares. A privacidade e confidencialidade da doença devem ser preservadas, mas discutidas com os pais e com a criança. Por outro lado, deverá assegurar condições para que as obrigações escolares não sejam prejudicadas.

 

Outra responsabilidade da escola é ajudar a combater eventuais sinais de discriminação que um aluno com diabetes poderá sentir. Muitas vezes estes são fatores que podem espoletar negligência no controlo da doença.

 

Procurar ajuda, seja através do seu médico ou de associações como a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), pode ser decisivo na gestão da diabetes. Os conselhos dos especialistas, assim como procurar exemplos de superação, podem constituir uma motivação extra nos momentos mais difíceis. Porque é preciso não esquecer: é possível viver uma vida normal mesmo apesar da diabetes.

Níveis de glicemia nas crianças

O controlo dos níveis de açúcar é fundamental para conviver com a diabetes e levar uma vida mais saudável e normal. O site WebMD adianta alguns níveis-alvo de glicose para cada momento do dia. No entanto, estes são apenas valores padrão. Não se esqueça de seguir sempre as indicações do seu médico.

 

Entre os 6 e os 12 anos

 

  • Em jejum: 80 – 180 mg/dL
  • Antes da refeição: 90 – 180 mg/dL
  • Previamente ao exercício: pelo menos: 150 mg/dL
  • Antes de dormir: 100 – 180 mg/dL
  • A1C: 8,0%

 

Entre os 13 e os 19 anos

 

  • Em jejum: 70 – 150 mg/dL
  • Antes da refeição: 90 – 130 mg/dL
  • Previamente ao exercício: pelo menos 150 mg/dL
  • Antes de dormir: 90 – 150 mg/dL
  • A1C: 7,5%

Diabetes tipo 2 – prevenir é essencial

Acontece quando o pâncreas não produz insulina suficiente para processar o açúcar no sangue, levando a níveis elevados de açúcar no sangue com consequências para os olhos, rins, nervos e saúde cardiovascular. Não há números consensuais sobre a diabetes tipo 2 nas crianças, mas sabe-se que tem aumentado e que, possivelmente, é até o tipo de diabetes mais comum nestas idades.

 

O excesso de peso e obesidade são os principais fatores de risco. Um estudo publicado no Journal of the Endocrine Society chegou à conclusão que as crianças com obesidade têm quatro vezes maior probabilidade de virem a ter diabetes tipo 2, apesar de não terem encontrado um relacionamento da obesidade com a diabetes tipo 1. Em Portugal os números são preocupantes.

 

De acordo com dados de 2019 da Childhood Obesity Surveillance Initiative, 29,6% das crianças têm excesso de peso (mais de meio milhão), assim como cerca de 40% dos adolescentes bebem refrigerantes diariamente. Mas é possível prevenir o excesso de peso e a diabetes tipo 2. Uma alimentação equilibrada e a manutenção de atividade física são estratégias transversais não só à prevenção como à gestão da diabetes tipo 2 nas crianças.

Referências
  • Revista pH

artigo
imprimir
anterior seguinte