Hipoglicemia: dos sintomas ao tratamento e prevenção
A queda do nível de glicose no sangue é um fenómeno frequente nos diabéticos que pode ser perigoso. Mas há formas de tratar esta situação e, principalmente, de a evitar.
Uma das situações médicas a que os diabéticos têm de estar atentos é a hipoglicemia. Esta ocorre quando há uma queda no nível de glicose no sangue. A glicose é o combustível por excelência das células, que usam esta molécula de açúcar na produção de energia para as suas múltiplas atividades.
Por isso, a glicose tem de estar sempre disponível no sangue para abastecer os tecidos do corpo. Quando a concentração de glicose na corrente sanguínea cai abaixo de um certo nível, surgem sintomas como tonturas, que sinalizam a hipoglicemia. Se a situação não for controlada com a ingestão de açúcar/outros hidratos de carbono, o paciente pode ter convulsões e ficar em risco de vida.
Causas e sintomas de hipoglicemia
O nível mínimo saudável de glicose no sangue é de 70 mg/dl. Abaixo deste nível, considera-se que o indivíduo se encontra em hipoglicemia. Podem surgir sintomas físicos como sensação de fraqueza, sensação de fome, tremores, suores frios, palpitações, palidez, ansiedade, irritabilidade.
Segundo a Encyclopedia Britannica, abaixo dos 45mg/dL de glicose no sangue, pode haver carência de açúcar no cérebro. A Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) distingue sintomas causados pela falta de açúcar no cérebro. Por exemplo, dor de cabeça, visão turva, tonturas, náuseas, confusão mental, amnésia, convulsões, coma.
Há várias causas para uma crise de hipoglicemia dentro de um quadro de diabetes, avança o National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIH), nos Estados Unidos.
Possíveis causas
- A hipoglicemia pode ser um efeito secundário da administração em excesso da insulina e das sulfonilureias e meglitinida, duas classes de medicamentos usados na diabetes tipo 2para estimular as células do pâncreas a produzirem insulina.
- Há outros fármacos usados na diabetes que não causam diretamente hipoglicemia. Mas se tomados com medicamentos da classe das sulfonilureias e da meglitinida podem aumentar as probabilidades de hipoglicemia.
- Não comer hidratos de carbono suficientes nas refeições e saltar/atrasar uma refeição pode aumentar o risco de hipoglicemia quando se continua a tomar a dose normal da medicação ou de insulina.
- Atividade física mais intensa do que o normal pode baixar o nível de glicose no sangue durante 24 horas após essa atividade, aumentando o risco de hipoglicemia.
- Consumir uma quantidade grande de bebidas alcoólicas sem ingerir alimentos suficientes também acresce o risco de hipoglicemia, já que o organismo tem mais dificuldade em manter estável o nível de glicose no sangue quando há álcool no sistema. Além disso, o álcool pode dificultar a perceção dos sintomas da hipoglicemia, levando à hipoglicemia severa.
- Quando se está doente pode haver dificuldade em comer, o que reduz o nível de açúcar no sangue.
Hipoglicemia: como se deve tratar
A melhor forma de tratar a hipoglicemia é tomar um copo de água com 10 a 15 g de açúcar diluído. Em alternativa, pode-se tomar sumo de frutas ou comer rebuçados e biscoitos. É preciso ter atenção porque alimentos como bolachas e chocolate, que têm gordura, não são eficazes para fazer subir rapidamente o nível de glicose no sangue.
Passados 10 minutos de tomar o açúcar ou os alimentos é preciso medir o nível de glicose sanguínea. Se estiver acima dos 70mg/dL, a situação voltou à normalidade, mas deve-se fazer um reforço com um lanche (três bolachas Maria ou meia fatia de pão ou um copo de leite). Se o nível de glicose se mantiver abaixo dos 70 mg/dL, é necessário voltar a repetir a dose de hidratos de carbono até o nível estar restabelecido.
Hipoglicemia severa
Quando a pessoa entra em convulsões e desmaia está-se perante um caso de hipoglicemia severa, em que não consegue agir sozinho para restabelecer o nível de açúcar no sangue e precisa de ajuda, explica a APDP. Isto é, nestes casos, o nível de glicose no sangue está abaixo dos 45mg/dL e a pessoa corre risco de vida. Assim, quem está a prestar assistência deve deitar a pessoa de lado, chamar imediatamente o 112, expondo de uma forma clara a situação. Se tiver disponível e souber fazê-lo, aplicar 1mg de glucagon (hormona que sinaliza o fígado para a necessidade de produzir glicose a partir das reservas calóricas do organismo) por injeção subcutânea ou intramuscular.
O que um diabético deve ter sempre consigo
Tendo em conta estes procedimentos, é igualmente importante que o doente diabético leve sempre consigo açúcar ou alimentos eficazes para fazer subir o nível de açúcar e resolver uma crise de hipoglicemia.
Além disso, caso tenha tendência para a hipoglicemia deverá monitorizar o nível de glicose no sangue recorrentemente, avisar as pessoas com quem vive e trabalha e o que devem fazer, e ter consigo um kit de injeção de glucagon.
É recomendável também ter consigo uma pulseira a informar que é diabético e o que fazer se houver uma crise de hipoglicemia.
Como evitar a hipoglicemia
Quem está medicado ou a tomar insulina deve ter em conta o risco de hipoglicemia e, assim, tomar algumas medidas para evitá-la:
- Junto com a equipa médica, deve ajustar o melhor possível a medicação à necessidade diária de insulina. Além disso, deve elaborar um plano para prevenir a hipoglicemia. Se teve vários casos de hipoglicemia num curto espaço de tempo deverá avisar a sua equipa médica para esta poder ajustar tanto a medicação, como a alimentação.
- Saber qual é o nível de glicose no sangue ajuda a decidir o plano médico, a alimentação que deve realizar e que tipo de exercício físico é o mais apropriado. Por isso, é importante medir diariamente o nível de glicose no sangue. Se o nível de glicose estiver abaixo dos 70mg/dL, deve reagir como se estivesse em hipoglicemia, mesmo não sentindo sintomas.
- Comer refeições e lanches regularmente que contenham a quantidade adequada de hidratos de carbono. Isto ajuda a manter os níveis de glicose no sangue e a prevenir a hipoglicemia. Se consumir bebidas alcoólicas, coma algo ao mesmo tempo.
- Mantenha-se ativo fisicamente de uma forma segura. Como o exercício físico pode fazer descer o nível de glicose no sangue, é importante medir o nível antes, durante e depois do exercício físico. Deve também ajustar os fármacos e a quantidade de hidratos de carbono que ingere. Por exemplo, de acordo com o que o seu médico estipular, pode aumentar a dose de hidratos de carbono. Ou, por exemplo, diminuir a dose de insulina antes de iniciar a atividade física para impedir que o nível de glicose baixe demais.
Encyclopedia Britannica
Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP)
National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIH)