Tratar feridas quando se vive com diabetes
Quando se é diabético, a cicatrização das feridas pode estar comprometida. Por isso, saber prevenir e tratar feridas é fundamental. Conheça aqui como identificar uma ferida e como agir!
A cicatrização de uma ferida é um processo dinâmico, que passa por várias fases. Todavia, a diabetes surge como um fator que perturba este processo natural. Ou seja, faz com que a cicatrização seja mais demorada e complicada. Mas porquê?
Teoria primeiro: a diabetes e a cicatrização de feridas
A diabetes é uma doença que, silenciosamente, pode provocar várias complicações em diferentes órgãos, à medida que os anos passam. Segundo a Associação Portuguesa dos Diabéticos de Portugal (APDP), cerca de 40% dos diabéticos terão complicações tardias da doença. Estas são sobretudo lesões:
- microvasculares, em que os pequenos vasos sanguíneos vão ficando deteriorados e se manifestam nos vários órgãos, por exemplo, nos olhos (retinopatia), nos rins (nefropatia) e nos nervos (neuropatia).
- macrovasculares, em que ocorrem alterações a nível dos grandes vasos sanguíneos, que originam doenças coronárias, doença cerebral, doença arterial dos membros inferiores e hipertensão arterial.
- como o pé diabético, que resulta de alterações micro, macro e neurovasculares, sendo uma das complicações mais frequentes da diabetes.
Estes efeitos originados pela diabetes dificultam a cicatrização das feridas, principalmente na medida em que:
- diminuem o oxigénio levado pelo sangue, do qual as feridas necessitam para cicatrizar, dado que os vasos sanguíneos ficam mais estreitos e deteriorados;
- aumentam o risco de infeção, pela acumulação de açúcar nos tecidos;
- diminuem a sensibilidade, ao danificarem os nervos.
Passar à prática: aprender a tratar feridas
Ao identificar uma lesão ou alteração na pele, eis o que deve fazer, antes de mais:
- Lave a ferida com água morna e sabão com pH neutro.
- Não desinfete a ferida com antisséticos que «pintam» ou que secam as feridas, como a iodopovidona, o álcool ou o peróxido de hidrogénio. Lave-a antes com soro fisiológico.
- Proteja a ferida com uma compressa esterilizada e fixe-a à pele com adesivo hipoalergénico. Mantenha o penso seco, substituindo-o todos os dias.
- Procure aliviar a pressão sobre a ferida, usando roupas confortáveis ou sapatos largos, que não rocem na ferida.
- Peça ajuda a um profissional de saúde assim que possível, para o ajudar a avaliar a lesão e a indicar um tratamento. Principalmente se apresentar sinais de infeção (calor, vermelhidão, inchaço, presença de pus).
Mais vale prevenir do que tratar feridas
O foco está, acima de tudo, na prevenção de feridas. Antes de mais, manter a glicemia controlada é crucial para prevenir complicações. Além disso, observe com atenção o seu corpo diariamente, por exemplo, depois do banho, ao colocar creme hidratante, e torne esta observação numa rotina. Não desvalorize qualquer alteração da pele, como cortes, arranhões, zonas de descamação ou vermelhidão, bolhas ou calosidades, por mais simples que pareçam. Mesmo a ferida mais simples pode ter uma cicatrização complicada e moroso ou ter uma infeção grave, pelo que merece a sua atenção.
A parte do corpo que tende a ser mais afetada por lesões graves são os pés. Isto porque as alterações na circulação fazem com que o sangue não irrigue bem estas zonas. Além disso, as lesões ao nível dos nervos afetam a sensibilidade, fazendo com que possa não sentir dor mesmo que tenha uma ferida. Estas feridas, longe da vista, «escondidas» dentro dos sapatos, podem evoluir e resultar em úlceras ou em amputação de dedos ou mesmo do pé. Por isso mesmo pedem uma avaliação e um tratamento adequado. Observe muito bem os seus pés, sobretudo, nos espaços entre os dedos, utilize calçado adequado e cuide das suas unhas. Procure fazer o rastreio do pé diabético todos os anos com o seu profissional de saúde.
Tratar feridas quando se tem diabetes é uma questão delicada. Confie no seu profissional de saúde para o ajudar e aposte acima de tudo na prevenção.
Por fim, junte-se à comunidade Diabetes 365º!
Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP)