A influência dos rins no coração do doente diabético
Há uma influência dos rins no coração? E, ainda mais, se esse coração e esses rins forem de um doente com diabetes? Sim, de facto é assim. Para perceber porquê, venha daí.

Talvez não seja muito óbvio à primeira vista, mas o coração e o rim têm uma relação muito estreita. Aliás, a influência dos rins no coração, no seu funcionamento, é uma das mais importantes do nosso organismo.
No doente diabético, que apresenta fatores de risco para doenças cardiovasculares e renais (isto é, ter diabetes aumenta a probabilidade de se desenvolver alguns destes problemas), esta relação é ainda mais importante.
O coração funciona
O coração bombeia sangue para todas as partes do corpo. Isto já sabíamos. Mas, se pensar bem, como é que se dá a manutenção de um fluxo regular do sangue. Que atinja mesmo todos os tecidos corporais? Bem, a resposta está nas artérias e arteríolas (ramificações das artérias maiores) que transportam esse sangue. Elas contraem e dilatam constantemente para fazer com que esse fluxo seja regular. Da mesma forma que se apertar uma mangueira que está a fazer correr água o fluxo aumentará – e vice-versa.
Esta vasoconstrição (as artérias e as arteríolas são vasos sanguíneos) é conseguida de diferentes formas. Uma das mais importantes é através de uma hormona chamada angiotensina II. A forma como a angiotensina II aparece em circulação é da responsabilidade de um órgão muito complexo. Mas bem nosso conhecido, chamado rim. Será aqui que encontramos a influência dos rins no coração?
E o rim dá uma ajuda (e não só!)
Os rins têm uma função muito interessante no organismo.
Filtram, reabsorvem e ajudam a excretar um conjunto de substâncias que, de outra maneira, não poderiam ou não deveriam estar em circulação. Uma dessas substâncias é o sódio. Todos consumimos sódio na nossa alimentação (o sal é rico em sódio) e ele é essencial para manter os níveis de pressão arterial, os tais que permitem que o sangue se espalhe por todo o corpo.
Assim, normalmente o que acontece, e que explica a influência dos rins no coração, num indivíduo saudável é o seguinte:
- A pressão arterial baixa.
- O rim segrega uma substância chamada renina.
- A renina atua sobre uma substância que já se encontra em circulação chamada angiotensinogénio. O que faz? Transforma-a em angiotensina I.
- Uma enzima chama enzima conversora da angiotensina (ECA) transforma-a em angiotensina II – cá está ela, a tal que dissemos que ia possibilitar a constrição das arteríolas.
- Além disso, a angiotensina II que chega ao rim comunica-lhe que deve produzir uma nova substância – a aldosterona.
- A aldosterona comunica ao organismo que deve reter no corpo mais sódio daquele que tem em circulação.
- Devido à 1) vasoconstrição e 2) ao aumento do sódio, aumenta a pressão arterial.
E assim, ciclicamente, a influência dos rins no coração mantém uma pressão arterial saudável!

O que acontece ao coração e ao rim na diabetes
As doenças cardiovasculares são mais prevalentes nos doentes diabéticos. Uma delas, a hipertensão arterial (um aumento da pressão arterial de forma constante), é muito comum nos doentes diabéticos.
No entanto, tudo se agrava mais quando o sistema de filtração dos rins, responsável pelas ações que descrevemos atrás, fica comprometido. Esta doença renal diabética, como se chama, pode culminar numa insuficiência renal. Isto é, o rim deixa de ser capaz de realizar a sua função de purificação. E é necessário recorrer às chamadas terapêuticas de substituição renal para que o sangue seja purificado: a hemodiálise, a diálise peritoneal ou mesmo ao transplante.
Complicações renais da diabetes: um alerta ao coração
A ideia de que problemas cardiovasculares se manifestam de uma forma mais acentuada nos doentes renais não é nova. Mas foi apenas em 2004 que este conceito foi expandido para aqueles doentes com disfunção renal de menor gravidade.
Uma análise recente demonstrou com grande clareza que a cada decréscimo de 10 mililitros da taxa de filtração renal, ocorre um acréscimo aproximado de 10% no risco relativo de morte ou complicação cardiovascular não fatal.
No caso da insuficiência renal causada pela diabetes, o risco de doença cardiovascular é ainda maior.
A doença cardiovascular permanece a principal causa de morte entre os portadores de doença renal crónica. Estes doentes possuem ainda uma maior prevalência de outras doenças cardíacas como a isquemia silenciosa do miocárdio ou a fibrilhação auricular.
É, por isso, essencial:
- Um controlo adequado do nível de glicemia (açúcar) no sangue.
- Um controlo adequado dos níveis de pressão arterial.
Prevenir é a chave. É por isso que cuidar dos seus rins, junto do seu médico, é cuidar do seu coração. Muito mais ainda se for diabético.
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Vander, Sherman & Luciano – Fisiologia Humana
Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP)
Varela, AM et al. (2006)
Maqbool, M et al. (2018)