COVID-19 e ansiedade: aprender a controlar
O vírus que todos conhecem – SARSCoV-2 – está a marcar a agenda das nossas vidas. Além da doença física, está a fazer germinar sentimentos de insegurança, de desesperança, de ansiedade. Mas é importante conhecer esses sinais e as estratégias que ajudam a superá-los.
Desde março que a incerteza tem sido o denominador comum da nossa vivência. E, por isso, a relação entre COVID-19 e ansiedade não é assim tão estranha! Consciente ou inconscientemente, a sensação está lá. A pandemia de COVID-19 tomou o quotidiano de assalto e, de um dia para o outro, revolucionou o que sabíamos e, acima de tudo, o que fazíamos. Primeiro, veio o estado de emergência e tudo o que implicou de mudança abrupta: trabalhar em casa, estudar em casa, brincar em casa, sair apenas para o estritamente necessário, estar apenas com as pessoas do círculo mais restrito. Sem saber até quando.
COVID-19 e ansiedade: é normal, mas…
Neste cenário, pode dizer-se que a ansiedade é expectável. E é normal – afinal, é uma resposta natural do organismo humano ao stresse. E acontece face a eventos aparentemente inócuos como o primeiro dia de aulas ou o primeiro dia no novo emprego, fazer um exame ou falar em público ou até antes de se tomar uma decisão importante como comprar casa. De uma forma simples, pode dizer-se, pois, que a ansiedade faz parte da vida.
Nunca é agradável, na medida em que causa desconforto, mas até pode ser motivadora. E, desde que adequada ao estímulo, não é para combater. O problema é quando a ansiedade interfere com essa vida. Quando a preocupação e o receio assumem uma dimensão desproporcionada face ao estímulo, quando são tão intensos e persistentes que inibem uma resposta que permita a adaptação à situação em causa. A ansiedade torna-se, de certa forma, paralisante.
Aí pode estar aberta a porta a uma das várias desordens da ansiedade, da ansiedade propriamente dita ao pânico, passando pelas fobias. Mas, qual é a baliza? Quando e como é que se sabe que a ansiedade deixa de ser «normal»?
De olhos nos sinais
Podemos dizer que a ansiedade se desenvolve «à medida» de cada pessoa. Primeiro, porque uma determinada situação pode ser geradora de ansiedade numa pessoa e noutra não. Depois, porque as suas manifestações também são distintas e podem oscilar desde uma simples sensação de «borboletas» no estômago até uma aceleração do batimento cardíaco, chegando a uma sensação de completa falta de controlo e, no limite, a uma desconexão entre a mente e o corpo. Pesadelos, pensamentos recorrentes, irritabilidade, memórias que não se controlam também parte deste portefólio.
Mas, de um modo geral, podem identificar-se alguns sintomas transversais.
- Aumento do ritmo cardíaco;
- Respiração acelerada (hiperventilação);
- Tensão e inquietação;
- Suores e tremores;
- Sensação de fraqueza e/ou fadiga;
- Dificuldade de concentração;
- Dificuldade em adormecer.
A preocupação excessiva relativamente à pandemia e aos seus impactos pode desencadear estas manifestações. Pode acontecer a qualquer um, mas, se persistirem durante mais de 2 semanas, aconselha-se consultar o médico, precisamente porque há o risco de a ansiedade deixar de ser «normal» e de se entrar no campo da saúde mental.
O alerta é ainda mais justificado se, a estes sinais, se somarem outros, como desorientação temporal ou espacial, sensação permanente de tristeza e de falta de esperança, incapacidade de cuidar de si e desempenhar as tarefas mais básicas (como tomar banho ou alimentar-se), alucinações ou delírios, agressividade (física ou psicológica) e pensamentos violentos (para com o próprio ou para com terceiros). Coloca-se aqui o risco de ansiedade severa ou de depressão.
Aliás, ansiedade e depressão estão, muitas vezes, associadas. Mas, quando a ansiedade é mais do que preocupação excessiva, há outros riscos: o de abuso de substâncias como o álcool e as drogas, o de inadaptação na escola e/ou no trabalho e consequente isolamento social, e o de suicídio. Há ainda que contar com problemas de natureza mais física, como dor crónica, distúrbios do sono, alterações a nível digestivo: em suma, diminuição da qualidade de vida.
Tratar o mais cedo possível
Dados os riscos inerentes, é fundamental identificar o problema o mais precocemente possível. Nem sempre o doente tem essa consciência, mas quem com ele convive está, desejavelmente, em condições de reconhecer as mudanças comportamentais e de sugerir uma consulta médica. O médico de família pode ser a primeira abordagem, mas o diagnóstico é especializado, pelo que compete a um profissional de saúde mental, nomeadamente o psiquiatra. Quanto antes for feito o diagnóstico, mais cedo poderá ser iniciado o tratamento – o que é fundamental para prevenir eventuais complicações e para devolver a qualidade de vida ao doente.
A abordagem terapêutica faz-se, naturalmente, caso a caso, mas o leque de opções envolve uma combinação de medicamentos e de psicoterapia. Os medicamentos ajudam a aliviar alguns sintomas da ansiedade, entre eles os antidepressivos, betabloqueadores, ansiolíticos e sedativos. Também a psicoterapia contribui para o mesmo objetivo, embora siga por outro caminho, não farmacológico: existem várias abordagens, mas trata-se sempre de ajudar o doente a lidar com a fonte de ansiedade e a regressar, gradualmente, ao seu quotidiano.
Uma dessas abordagens é a terapia comportamental cognitiva, que visa ajudar o doente a encontrar outras formas de pensar e a reagir ao problema causador da ansiedade, neutralizando, assim, os pensamentos distorcidos sobre a realidade. Outra possibilidade é a terapia de exposição, que, como o nome sugere, se foca em confrontar o doente com o que gera ansiedade, promovendo o contacto com as situações que estavam a ser evitadas. Em complemento, são estimuladas técnicas de gestão do stresse, como exercícios respiratórios e meditação.
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Revista pH