Estratégias para prevenir a depressão feminina
A depressão é não só mais comum no sexo feminino, como tende a surgir mais cedo, a prolongar-se durante mais tempo e a ser recorrente. Porquê? Vítor Viegas Cotovio, médico psiquiatra, explica e ensina a prevenir a depressão nas mulheres.
Nos 21 países europeus incluídos no European Social Survey, feito com base em dados recolhidos em 2014 e 2015, as mulheres reportaram mais sintomas de depressão do que os homens. Em Portugal, essa discrepância é maior, com 30,9 % das mulheres, contra 15,8 % dos homens. Aquilo a que chamamos depressão «é uma entidade que inclui vários tipos de síndromes depressivas», explica Vítor Viegas Cotovio, médico psiquiatra e psicoterapeuta.
O especialista destaca 2 principais tipos: «A perturbação depressiva major, com características mais biológicas, e a perturbação distímica, geralmente mais prolongada no tempo e relacionada também com questões psicológicas». A prevalência desta doença nas mulheres tem uma explicação multifatorial, mas também existem formas de prevenir a depressão feminina.
Porque são as mulheres mais afetadas pela depressão?
A mulher é biologicamente mais vulnerável
«Existem fatores biológicos, nomeadamente de origem hormonal, que podem, nalgumas situações, aumentar a vulnerabilidade da mulher para a depressão, mas é a combinação destes com os fatores psicossociais que explica a prevalência no sexo feminino», afirma o psiquiatra. Na última revisão do manual de diagnóstico das perturbações mentais (o DSM-V), da American Psychiatric Association, foi incluído um novo transtorno depressivo que atinge apenas as mulheres: a perturbação disfórica pré-menstrual.
«Verificou-se que, por vezes, a síndrome pré-menstrual é sentida de forma tão intensa e incapacitante que levou a que se criasse esse diagnóstico», adianta. Também «a gravidez, o pós-parto, a perimenopausa, [além do] ciclo menstrual, estão associados a períodos de grandes alterações físicas e hormonais», lê-se no site norte-americano do National Institute of Mental Health. Este aponta outros dois estados depressivos exclusivos das mulheres: a depressão perinatal (durante a gravidez ou após o parto) e a depressão da perimenopausa (período que antecede a menopausa).
A mulher é mais pressionada pela sociedade
«Atualmente, a sociedade exige muito à mulher. Exige que ela se realize profissionalmente, mas que não deixe de ser competente em casa, enquanto esposa e mãe. Ela própria sente a responsabilidade de não falhar, levando a uma quantidade tal de trabalho que não se coaduna com as suas expectativas, por vezes perfecionistas, podendo provocar uma rutura depressiva. É verdade que nas gerações mais novas já existe uma maior igualdade entre o papel feminino e masculino. No entanto, essa evolução ainda não consegue criar fatores de equilíbrio suficientemente contentores da vulnerabilidade feminina para as perturbações ansiosas e depressivas», analisa o psiquiatra.
A mulher é mais competente a expressar o que sente
«O facto de as mulheres terem mais facilidade em falar das emoções e procurar ajuda também contribui para que as depressões sejam mais identificadas no sexo feminino.»
Estratégias para prevenir a depressão
Segundo a American Psychiatric Association, um terço das mulheres vai sofrer um episódio depressivo major na vida. Esta condição caracteriza-se por um período de pelo menos 2 semanas consecutivas, durante o qual existe um humor depressivo ou perda de interesse em quase todas as atividades, acompanhado de mal-estar. Mas de acordo com o psicoterapeuta Vítor Viegas Cotovio, existem formas de prevenir a depressão feminina.
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Não se culpabilize
«É muito importante a mulher sentir que não está em falta. Não se culpabilizar nem querer ser perfeita quando está em várias frentes, tentando conciliar as tarefas das diferentes esferas da sua vida.»
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Procure uma atividade de descompressão
«Para conseguir equilibrar aquilo que é e que a realiza com aquilo que são os seus deveres, deve incluir na sua vida variáveis de descompressão, como ir ao ginásio ou à dança. Estas atividades, promotoras da saúde, ajudam a atenuar o carácter tóxico da pressão do dia a dia e a criar fatores de prevenção importantes.»
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Equilibre a sua relação com o exterior
«Para haver um equilíbrio dentro de si, tem de haver um equilíbrio com o exterior, e vice-versa. Por um lado, articulando as tarefas com quem vive (se vive com alguém), para que não fique sobrecarregada. Por outro, com a empresa onde trabalha, que deve compreender que quando é mãe, não precisa apenas de tempo quando está a amamentar. Também vai precisar de ir ao médico com o seu filho, às reuniões da escola e não deve ser penalizada ou olhada de lado por isso.»
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Procure ajuda
«Se tem dificuldade em arranjar competências de equilíbrio ou é perfecionista por natureza, pode ser útil ter algumas sessões psicoterapêuticas. Ajudam a desatar os seus conflitos interiores e a melhorar a relação com o exterior para não se colocar sempre em risco. Outras vezes, pode ser útil, em termos de organização, ter sessões de coaching ligadas à forma como organiza os seus tempos pessoais e profissionais.»
Revista Prevenir