Neuropatia: o início de outras complicações
A neuropatia é a principal complicação da diabetes. E pode ser, também, o início de outras complicações, algumas delas de grande gravidade para os doentes. Conheça-as aqui.

Nas várias complicações da diabetes é inevitável que figure a neuropatia. Normal, visto que é a sua complicação mais comum, tanto no tipo 1 como no tipo 2. É capaz de prejudicar todo o corpo e de ser causa de uma significativa diminuição da qualidade de vida – e até de aumento da mortalidade. Por isso, está na origem de muitos problemas que este artigo tenta resumir.
O que acontece na neuropatia?
Existe, no nosso corpo, uma rede de células chamadas neurónios a que convencionalmente chamamos nervos. Estes nervos, ligados uns aos outros e aos vários órgãos do nosso corpo, permitem transmitir um conjunto de sinais que fazem com que esses mesmos órgãos possam funcionar. Regulam a sua atividade, digamos assim.
Este sistema nervoso periférico difere do sistema nervoso central. Um sistema de órgãos localizados, composto pelo cérebro e pela medula espinal.
E é esta rede complexa que pode surgir afetada na diabetes. Por vários motivos. Assim, a consequência é a perda progressiva de células, com os problemas associados a estarem dependentes das zonas mais ou menos afetadas.

Neuropatia: a origem de várias complicações
Cerca de 50% dos doentes com diabetes tipo 2 podem ter uma neuropatia significativa, com consequências graves. Sendo a neuropatia um problema tardio, muitas vezes as complicações a que dá origem são, também elas, bastante graves. Sobretudo se os valores de glicemia (quantidade de açúcar no sangue) não estiverem sob controlo.
Aqui, apresentamos algumas dessas complicações:
1. Perda de um membro
Alguns tipos de neuropatia, ao causarem perda de sensibilidade, fazem com que feridas ou lesões passem despercebidas. Mais tarde, essas lesões podem infetar e criar úlceras. Nos pés, por exemplo, os níveis elevados de açúcar no sangue danificam os vasos sanguíneos, reduzindo a quantidade de sangue aí presente. Se uma ferida permanecer despercebida e, por isso, não tratada, a infeção pode espalhar-se para o osso. Depois, vai causar a morte de tecidos (a chamada gangrena). Por fim, pode levar à amputação de membros, como dedos, pés ou mesmo a parte inferior da perna.
2. Pé de Charcot
No pé de Charcot, também conhecido por artropatia neuropática, a articulação do pé perde a sua função por lesão do nervo nesse local. O pé fica então inchado, deformado e o doente perde a sensibilidade nessa zona. Andar é doloroso e chega a piorar a lesão.
3. Disfunção urinária
Os nervos passam a não detetar a pressão que a urina faz na bexiga cheia. A bexiga não é completamente esvaziada aumentando a quantidade de bactérias que se alojam no local, ao mesmo tempo que o doente perde a capacidade de perceber quando tem vontade de urinar, bem como o controlo dos músculos para o fazer. A consequência, além das infeções, pode mesmo ser a incontinência.
4. Baixa sensibilidade à hipoglicemia
Um doente com valores glicémicos abaixo dos 70 mg/dL começa a sentir esse efeito. Muitas vezes dizemos até que estamos com «fraqueza». O doente com neuropatia vai ter falta de sensibilidade para o perceber. Logo após, poderá sentir, fruto da crescente diminuição da glicose, suores, palpitações e tremores.
5. Problemas digestivos
Há um tipo de neuropatia que atinge os nervos no sistema digestivo levando a obstipação, diarreia, náuseas, inchaço, vómitos e perda de apetite. Outras complicações mais graves podem levar o estômago a não esvaziar completamente, o que traz problemas acrescidos como resultado.
6. Hipotensão
Ou tensão (pressão arterial) baixa. A princípio, como os nervos também controlam a circulação do sangue nos vasos sanguíneos e a função do coração, a lesão desses vasos faz com que o corpo não consiga ajustar a frequência cardíaca e a pressão arterial. Os doentes sentem a cabeça tonta ou sensação de desmaio quando se levantam.
7. Disfunção sexual
Há neuropatias que provocam uma diminuição da resposta sexual. Isto é causado por lesões nos nervos dos órgãos sexuais. O homem pode apresentar disfunção erétil, enquanto a mulher sente dificuldade em atingir a excitação sexual e o orgasmo, e na lubrificação.
8. Suar de forma incontrolável
A neuropatia pode ainda causar suor excessivo, especialmente durante as refeições ou à noite. Isto deve-se às alterações nas terminações nervosas das glândulas sudoríparas (responsáveis pela produção do suor) fazendo com que o corpo deixe de conseguir regular a sua temperatura.
Esteja atento! E rastreie
Em resumo, há alguns sintomas da neuropatia diabética a que pode estar atento (dormência dos pés, por exemplo). Ainda que eles não sejam exclusivos da doença.
Por isso, se é diabético, o mais importante é mesmo recorrer ao seu médico assistente. Estes, pode recomendar fazer o rastreio do problema. Evita, assim, complicações de maior, perfeitamente evitáveis.
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Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
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Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP)