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Stresse e diabetes: qual a relação?

O stresse não pode ser prevenido, por isso o ideal é saber geri-lo porque, ao viver-se constantemente em stresse, não só o risco de desenvolver diabetes aumenta como, em caso de a doença já se ter instalado, é mais difícil de controlar.

O stresse psicológico é uma experiência «psicológica de tensão induzida por uma ameaça percecionada pela pessoa perante determinada situação e visa a adaptação a essa situação». É, ainda segundo a psicóloga Isabel Trindade, uma experiência individual, ou seja, «cada um reage à sua maneira», mas inevitável, já que «todos nós somos confrontados com situações de stresse, sendo que os acontecimentos e as situações que o induzem são chamados stressores».

 

O stresse pode ser positivo ou negativo. Positivo, porque «somos constantemente confrontados com stressores aos quais nos adaptamos, muitas vezes, quase no imediato e, por isso, ajuda-nos a viver». Por outras palavras, o stresse pode «motivar-nos para a ação» e, neste sentido, por exemplo, «se tivermos um trabalho ou exame para fazer, o stresse ativa-nos para nos preparar para esse acontecimento», explica a psicóloga. Mas se, pelo contrário, «acharmos que não temos capacidade e que não vamos conseguir responder àquela situação» ou se «o stresse é continuado, ou seja, vivem-se vários acontecimentos de stresse durante um curto espaço de tempo, aí já poderá ser prejudicial», especifica a especialista.

Stresse e diabetes

Stresse e risco de diabetes

 

Perante uma situação que se perceciona como ameaçadora, o organismo, como explana Isabel Trindade, «liberta diversas hormonas e em grandes quantidades, como o cortisol, o que leva à mobilização de uma grande quantidade de energia sob a forma de glicose (açúcar), que devia entrar nas células para ser utilizada na reação ao perigo, porque o ser humano foi criado para estar em meio selvagem (reagir ao perigo fisicamente).

 

Mas, como isto já não acontece, a energia não vai ser totalmente gasta». Não sendo utilizada, a glicose «vai continuar em circulação, favorecendo a precipitação da diabetes tipo 2», sublinha a psicóloga. Além disso, estando a pessoa sob stresse, poderá ainda adotar comportamentos «prejudiciais para a saúde e de risco para o desenvolvimento da diabetes, como alimentar-se mal (por exemplo, abusar de doces), praticar pouco exercício físico porque fica sem vontade de o fazer ou, se já fuma ou consome álcool, terá tendência a fumar ou beber ainda mais», refere a especialista.

 

Impacto na gestão da doença

 

Quando já se tem diabetes tipo 2, o stresse vai afetar o próprio controlo da glicemia (concentração de glicose no sangue) e fá-lo também ao nível hormonal e comportamental. As repercussões a nível hormonal acontecem porque, como referido, «muito stresse leva à libertação de grandes quantidades de algumas hormonas e, em consequência, a elevados níveis de glicose no sangue, que os diabéticos têm dificuldades em controlar porque têm um défice de insulina ou resistência à insulina (hormona produzida pelo pâncreas que controla a glicose).

 

Tanto que, muitas vezes é-lhes perguntado, antes de medirem a taxa de glicemia, se estão muito ou pouco stressados (pedindo, por exemplo, para se autoavaliarem numa escala de zero a dez)», sublinha Isabel Trindade. Já no que toca ao comportamento, o problema é «sobretudo, ao nível da alimentação e do exercício físico». Neste sentido, a especialista explica que as pessoas com diabetes «têm de ter uma alimentação saudável e praticar exercício físico, mas, estando em stresse, poderão ter menos vontade, nessas alturas, de o fazer».

 

Mulheres são as mais afetadas

 

Os efeitos do stresse sobre a saúde das mulheres é «potencialmente maior do que nos homens», declara Isabel Trindade, explicando que «tem a ver com a acumulação de papéis que a sociedade exige às mulheres ou que elas exigem a elas próprias». Isto porque as mulheres «acumulam papéis como cuidar da educação dos filhos ou, havendo familiares que precisem de cuidados, são elas as cuidadoras. E, depois, ao mesmo tempo, têm o seu papel profissional».

 

Além disso, é onde «a fragilidade social é mais frequente, ganhando menos do que os homens, sendo mais afetadas pelo desemprego, mais discriminadas e mais vítimas de violência doméstica». A junção de todos estes fatores «faz com que o risco de stresse seja mais elevado». E, quando já sofrem de diabetes, junta-se a estes fatores de stresse, «terem de se confrontar com as ameaças da doença e as questões relacionadas com o tratamento», salienta a psicóloga.

 

A idade poderá ser fator agravante

 

Não o sendo diretamente, é uma condição agravante indiretamente porque «há mais carga de doença para gerir à medida que se envelhece, estando a diabetes, com a idade, muito associada a outras doenças crónicas, muitas delas caracterizadas por dor crónica incapacitante, que, por sua vez, é muito geradora de stresse», especifica Isabel Trindade. Há ainda a questão das desigualdades sociais, que, «não tendo a ver com a idade em si, afeta muito os idosos que vivem em fragilidade social (pobreza e isolamento) e tudo isto são fatores acrescidos de stresse que acabam por influenciar a diabetes», conclui a psicóloga.

Sente isto? Pode estar com níveis de stresse elevados

Além da taquicardia e suores, que são manifestações momentâneas que assustam, há outras manifestações de stresse que, segundo a psicóloga Isabel Trindade, poderão não ser tão óbvias:

 

Sintomas físicos:

 

  • Dores de cabeça (sem outro tipo de disgnóstico)
  • Dores no pescoço e corpo (as chamadas dores de tensão)
  • Insónia persistente e pesadelos
  • Fadiga
  • Problemas digestivos

 

Sintomas psicológicos:

 

  • Mais irritação
  • Mais preocupações
  • Ter medo
  • Sentir-se inquieto e agitado, fracassado ou culpado

Aprenda a lidar com o stresse

O stresse «não se consegue prevenir, mas pode-se aprender a geri-lo», refere a psicóloga Isabel Trindade. «O importante é perceber o que o provoca para eliminar a causa ou aprender a lidar com ela.» Isto é o que pode fazer:

 

  • Tenha uma boa rede de suporte social. Dedique-se a atividades que lhe deem prazer
  • Faça uma alimentação saudável
  • Pratique exercícios de relaxamento
  • Tenha uma boa higiene de sono: deite-se sempre à mesma hora, não tenha televisão no quarto e durma as horas necessárias para ter um sono reparador
  • Pratique exercício físico
  • Seja otimista (mas com realismo). Quem tem sentimentos de fracasso e de culpa tem mais dificuldade em lidar com o stresse.
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Referências
  • Revista Prevenir

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