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A genética da diabetes explicada

Se foi diagnosticado ou conhece alguém próximo com diabetes, poderá perguntar-se o que terá causado a doença. Será que vem de família? Neste artigo tentaremos explicar de forma simples o que é a genética e como é que esta influencia a diabetes.

A diabetes é uma doença multifatorial. Ou seja, há vários fatores que se combinam e levam à sua manifestação. Sabemos que os genes têm um papel importante no seu desenvolvimento. Mas outros fatores, como os ambientais, também influenciam o aparecimento da doença.

O que é a genética?

A genética é o estudo dos genes. Por consequência, estuda a hereditariedade. Ou seja, a transmissão de características físicas e biológicas dos pais para os filhos. Os genes são as «unidades» onde está contida a informação necessária para que o ser humano se forme e desenvolva. Ou seja, é nos genes que está contido o nosso ADN, que nos foi passado pela nossa mãe e pelo nosso pai.

Genética e diabetes

A diabetes tipo 1 tem causas diferentes das da diabetes tipo 2. Mas em ambas acontecem duas coisas:

 

  1. É herdada uma predisposição para a doença.
  2. Os fatores ambientais aos quais se está exposto despoletam a doença.

 

Ou seja, os genes não são os únicos responsáveis por uma pessoa vir a ter diabetes. A prova disso é que existem gémeos (pessoas geneticamente idênticas) em que só um deles desenvolve a doença.

 

Diabetes tipo 1

 

A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune. O sistema imunitário do nosso corpo está desenhado para combater agentes externos como vírus e bactérias. Nas doenças autoimunes acaba por atacar erradamente as células saudáveis do corpo. Neste caso, são atacadas as células do pâncreas e este não produz a insulina necessária para metabolizar a glicose (açúcar dos alimentos).

 

Na diabetes tipo 1, é frequente que os fatores de risco para a doença sejam herdados de ambos os pais. Se tanto o pai como a mãe tiverem diabetes tipo 1, as probabilidades de que os filhos venham a ter a doença estão entre 10 e 25%.

 

Mas existem muitas pessoas com fatores de risco que não chegam a desenvolver diabetes. É aqui que entram os fatores ambientais. Acredita-se por exemplo que climas mais frios possam levar ao aparecimento de diabetes tipo 1. Alguns vírus, que em algumas pessoas causam apenas uma virose e passam, noutras podem desencadear a diabetes. A alimentação desde a infância também se acredita poder influenciar a doença.

 

Esta é uma área em constante estudo e desenvolvimento. No entanto, sabe-se que a maioria das pessoas com diabetes têm mutações nos genes HLA, que estão relacionados com as doenças autoimunes (como é o caso da diabetes). Herdar determinadas versões dos genes HLA aumenta a probabilidade de que as células imunitárias ataquem as células saudáveis, em vez dos «invasores».

 

Nas famílias onde haja pessoas com diabetes tipo 1 também pode ser feito um teste de anticorpos (células de defesa do organismo). Este avalia os anticorpos contra a insulina, contra as células do pâncreas que a produzem ou contra a enzima GAD. Níveis elevados destes anticorpos representam risco elevado de ter diabetes tipo 1.

 

Diabetes tipo 2

 

Embora os genes envolvidos ainda não estejam muito bem definidos, a diabetes tipo 2 está muito mais ligada à genética e hereditariedade do que a diabetes tipo 1. Pensa-se que sejam vários os genes envolvidos cujas mutações levam a este tipo da doença. No entanto, existe também uma relação muito forte com os fatores ambientais e estilo de vida na diabetes tipo 2. A maioria das pessoas com diabetes tipo 2 são obesas ou têm excesso de peso. Da mesma forma, nas famílias onde existe mais obesidade, maus hábitos alimentares e sedentarismo, é mais provável haver mais pessoas com diabetes tipo 2.

 

No entanto, este também é o tipo de diabetes mais prevenível. Com uma alimentação equilibrada, exercício físico e manutenção de um peso adequado, mesmo as pessoas mais propensas à diabetes tipo 2 podem atrasar ou mesmo evitar o seu desenvolvimento.

 

De acordo com alguns estudos, no caso da diabetes tipo 2, os genes envolvidos não têm que ver com a autoimunidade. São inúmeros genes os que podem estar envolvidos no aparecimento deste tipo de diabetes. No geral, são genes que intervêm nos processos de regulação da glicose ou de insulina, daí a sua influência no aparecimento da doença.

 

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Fatores de risco para a diabetes tipo 2: sabe quais são?

 

Outros tipos de diabetes

 

Cerca de 5% dos casos de diabetes não são do tipo 1, nem do tipo 2 nem do tipo gestacional. Resultam, sim, de mutações num único gene. São, por isso, de origem puramente genética.

 

  • Diabetes MODY

 

A diabetes MODY (do inglês maturity onset diabetes in the young) é originada por defeitos genéticos nas células beta do pâncreas. Estas são as células responsáveis pela produção de insulina. Por este defeito genético, deixam de produzir esta hormona controladora da glicemia, despoletando a diabetes.

 

Está normalmente presente em várias gerações da mesma família e não tem que ver com fatores ambientais como a obesidade. Ocorre normalmente antes dos 25 anos e em pessoas com um peso adequado.

 

  • Diabetes mitocondrial

 

É uma forma extremamente rara de diabetes que ocorre por mutações no DNA das mitocôndrias (parte da célula responsável pela produção de energia). Neste caso, também acontece que as células beta do pâncreas não conseguem produzir insulina.

 

  • Defeitos genéticos na ação da insulina

 

Apesar de a obesidade ser a maior causa para desenvolver resistência à insulina, esta também pode ser causada por alterações genéticas.

 

Como vimos, a diabetes é uma doença complexa. Os tipos mais comuns dependem normalmente de uma combinação de vários fatores para se desenvolverem. No entanto, a predisposição para que a doença se manifeste aumenta se isso estiver «escrito» nos nossos genes. E como os genes passam de geração em geração, a diabetes pode ser herdada. Pais diabéticos têm, por isso, maior probabilidade de ter filhos diabéticos.

 

O lado positivo é que ter esta predisposição nos genes não é, por si só, uma sentença. Um estilo de vida equilibrado, com alimentação saudável e exercício físico, são uma grande ajuda para atrasar ou mesmo evitar o aparecimento da diabetes. Principalmente a diabetes tipo 2. Podemos então dizer que de certa forma é possível «contornar a genética».

 

E já sabe: para estas e outras informações junte-se à comunidade Diabetes 365º!

Referências
  • Radha V, et al. (2003).

  • Encyclopedia Britannica

  • American Diabetes Association (ADA)

  • Dean, L et al. (2004)

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