Gerir o impacto da diabetes em família
Lidar com a diabetes é sempre mais fácil com o apoio da família.

A diabetes é uma doença familiar. Quando se diagnostica a diabetes numa pessoa, toda a família fica envolvida, principalmente os que são mais próximos. Esta situação acontece tanto no apoio à gestão da doença, mas também na mudança de hábitos alimentares e de estilo de vida.
Na fase inicial da doença pode haver uma maior fragilidade física e psíquica devido a um período, mais ou menos longo, no qual a pessoa esteve sujeita à evolução da doença e às suas consequências, como a perda de peso, a desidratação, perda de apetite e emagrecimento. Este estado pode acontecer sobretudo na diabetes tipo 1.
Ajudar a controlar o stresse e a ansiedade
O Institute for Patient and Family-Centered Care fez um estudo que envolveu 5000 pessoas adultas com diabetes e concluiu que o envolvimento da família, dos amigos e dos colegas de trabalho são muito importantes para o bem-estar da pessoa com diabetes e para a sua autogestão da doença.
Sabemos que o diagnóstico da diabetes pode ser motivo de stresse e de ansiedade. O tratamento da diabetes, no entanto, deve ter a preocupação de atenuar essa angústia. Educar e transmitir conhecimento sobre a doença pode ser uma fonte de segurança que garante a tranquilidade necessária para fazer um tratamento adequado.
Aprender a controlar a diabetes
A diabetes é uma doença muito exigente. O tratamento requer que a pessoa tenha uma alimentação saudável, pratique atividade física regular, faça a sua autovigilância, planeamento e organize hábitos de vida mais saudáveis.
A pessoa com diabetes deve sentir que faz parte da equipa de saúde que a segue, procurando ter autonomia e atenção às variações de glicemia e à hipoglicemia, com a rápida identificação e tratamento de situações perigosas de forma eficaz. Mas,deve ainda aprender sobre as diversas complicações associadas à diabetes para saber como fazer um controlo adequado à sua idade e às comorbilidades associadas, com vista à melhor qualidade de vida possível.

O impacto emocional pode ser significativo, não só na pessoa com diabetes mas também nos familiares, sobretudo os mais próximos. Diversos fatores podem contribuir para que possam surgir sentimentos de ansiedade: o diagnóstico, o facto de ser uma doença crónica, o aparecimento de potenciais complicações e as temidas hipoglicemias.
É fundamental educar para esclarecer e ter disponibilidade de atenção em determinadas fases da doença.
Estender a educação aos familiares
O apoio e o acompanhamento dado pela família deve ser reforçado nas crianças, nos adolescentes e nos mais idosos, contribuindo para o bem-estar físico e psicológico. Fomentar o otimismo e a esperança no futuro é fundamental. Este apoio familiar pode refletir-se, por exemplo, no acompanhamento às consultas e aos tratamentos e na administração do tratamento (insulina, medicamentos) para evitar omissões, trocas e confusões.
Lidar com a doença não será fácil, mas será bem melhor se o processo for acompanhado pelos familiares. Há várias formas de apoio familiar:
- Apoio social e emocional;
- Acompanhamento em consultas;
- Ajuda na decisões sobre o tratamento;
- Apoio para iniciar e manter hábitos de vida saudáveis (não fumar, não abusar de bebidas alcoólicas, manter uma alimentação saudável e atividade física de acordo com a idade, por exemplo);
- Apoio para modificar as rotinas familiares;
- Ajudar nas injeções de insulina, encorajando o tratamento e evitando esquecimentos.
A família tem ainda outras responsabilidades para não «sabotar» os seus deveres: planear refeições adequadas para quem tem diabetes, evitar a tentação com alimentos desaconselhados, não questionar a necessidade e utilidade das medicações ou perturbar a adesão ao tratamento.
O apoio e o envolvimento reduz conflitos relacionados com a doença
É muito importante dar informação aos membros da família sobre a doença e as opções do tratamento. É ainda importante validar as suas experiências como cuidadores, ensinar a lidar as tarefas que fazem parte da gestão da doença e ensinar a planear o futuro. Os familiares, com esta integração nas atividades relacionadas com o tratamento, também podem colher benefícios como diminuição do stresse psicológico, melhorar os seus comportamentos, aumentar a literacia para a saúde, prevenir a doença e combater a obesidade.
Num estudo em adolescentes dos 10 aos 15 anos foi demonstrado que o envolvimento dos pais pode ser reforçado através de uma intervenção integrada na rotina da equipa de saúde. Esta intervenção contribui para uma redução dos conflitos familiares relacionados com a diabetes, através da observação e aconselhamento sem ser uma proteção declarada.
Apoio familiar facilita o controlo metabólico
O controlo metabólico é influenciado por vários fatores:
- Socioculturais (interação familiar e a pressão exercida pelos familiares);
- Psicológicos (depressão, comportamentos prejudiciais, stresse, perturbações nutricionais, medo de complicações e discriminação social);
- Outros, como mitos e medos sobre a insulina e suas dosagens, sobre os antidiabéticos orais ou sobre a evolução física e hormonal do jovem.
A intervenção familiar pode ser feita, na criança e no adolescente, através do apoio e reforço da segurança. É importante a vigilância sobre desvios do comportamento que prejudicam o controlo da diabetes e a prevenção das complicações. No adulto, a intervenção da família pode incidir no apoio e no reforço da segurança, no aconselhamento em casos particulares, mas também na partilha de conhecimento sobre a doença. As relações familiares podem influenciar a gestão da diabetes (conflitos de opinião sobre medidas a tomar no campo nutricional, por exemplo).
A não resolução dos problemas pode ser um indicador de risco para as complicações. Foram identificados alguns fatores de risco familiar num estudo realizado em 2006:
- Baixa satisfação do casal;
- Hostilidade e conflitos;
- Excesso de críticas;
- Má capacidade para resolver problemas;
- Baixa coerência e coesão familiar;
- Má organização familiar;
- Dúvidas sobre a diabetes e sobre a eficácia das recomendações da equipa de saúde.
O conhecimento dos familiares sobre a diabetes é muito importante. Tem influência na adesão ao tratamento, no cumprimento das recomendações alimentares, na desmistificação da insulinoterapia e na identificação das complicações. É igualmente muito importante no apoio à vigilância sobretudo em crianças, adolescentes e idosos.
Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP)