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Jejum intermitente e diabetes

Ouviu falar do jejum intermitente? Pela descrição até parece uma boa forma de perder peso. Mas será a melhor opção para quem tem diabetes? Leia este artigo, que nós explicamos tudo.

O jejum intermitente ganhou popularidade há alguns anos. Parecia uma forma quase milagrosa de perda de peso. E de cura de inúmeras doenças. Mas em que consiste, afinal? Tem fundamentos científicos? Pode ser um aliado da diabetes? Ou, pelo contrário, será totalmente desaconselhado?

 

Na verdade, o jejum é uma prática milenar. Seja por razões religiosas ou de saúde, desde os princípios da civilização que os seres humanos o praticam. Neste artigo, fique a saber as principais características do jejum intermitente.

O que é o jejum intermitente

O jejum intermitente é um regime alimentar. Neste, durante um determinado período de tempo, elimina-se a ingestão de comida (e, assim, de calorias). Existem vários modelos:

 

  • Não comer durante todo o dia, vários dias da semana (a versão mais restritiva).
  • Não comer depois de determinada hora (normalmente a partir do final do dia).
  • Alternar entre comer normalmente e restringir as calorias ingeridas apenas durante os dias de jejum.

 

Importa perceber que este regime alimentar não é suposto ser adotado apenas durante um curto período de tempo. Para que os seus efeitos se façam sentir ao longo da vida, o jejum intermitente deverá ser adotado a longo prazo.

 

A lógica por detrás do jejum intermitente

 

Os hidratos de carbono que ingerimos são digeridos pelo nosso corpo e entram na corrente sanguínea sob a forma de açúcar (glicose). Essa glicose é utilizada pelas células de todos os nossos órgãos para a obtenção de energia. É o que lhes permite funcionar. Toda a glicose que não é utilizada de imediato é armazenada pelos adipócitos (células gordas) sob a forma de gordura. Para que a glicose entre nas células, precisa da ajuda de uma hormona: a insulina.

 

Quando passamos algumas horas sem comer, os nossos níveis de insulina baixam. Porquê? Porque se não comemos, não obtemos glicose. E não precisamos de insulina para a ajudar a entrar nas células. Quando os níveis de insulina baixam, os adipócitos libertam a glicose que armazenaram. Ou seja, é deste modo que vamos gastando as reservas de gordura. Consequentemente, perdemos peso. A lógica por detrás do jejum intermitente é precisamente esta. Deixar que os níveis de insulina baixem o suficiente para que se «queime» a gordura acumulada.

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A dieta mediterrânica e a diabetes

Efeitos na diabetes

Alguns estudos científicos têm demonstrado que o jejum intermitente tem largos benefícios em várias patologias. Obesidade, diabetes, doença cardiovascular, alguns tipos de cancro e transtornos neurológicos são algumas delas.

 

Investigadores da Universidade do Alabama conduziram um estudo em homens obesos com pré-diabetes. Compararam 2 abordagens diferentes ao jejum intermitente. Numa, todas as refeições eram tomadas num período de 8 horas durante o dia (das 7h às 15h). Noutra, as refeições eram tomadas ao longo de 12 horas (das 7h às 19h). Ambos os grupos mantiveram o peso. No entanto, após 5 semanas, no primeiro grupo (das 8h):

 

  • baixaram significativamente os níveis de insulina;
  • melhorou substancialmente a sensibilidade à insulina;
  • baixaram os valores de pressão arterial (tensão);
  • diminuiu o apetite dos participantes.

 

Isto porque o nosso organismo segue um ritmo circadiano. Ou seja, está adaptado para comer durante o dia e dormir durante a noite. Além disso, comer ao fim do dia/noite está associado a um maior risco de obesidade e diabetes. Conclui-se assim que mais do que fazer jejum, importa quando o jejum é feito. Simplesmente ao comer mais cedo e alargar o período de jejum noturno, verificaram-se benefícios no metabolismo. Mesmo sem se verificar perda de peso.

 

No entanto, é preciso ter atenção!

 

No entanto, em alguns estudos com doentes com excesso de peso ou obesos, demonstrou-se que o jejum intermitente é tão eficaz na perda de peso como as dietas ditas tradicionais. Não é uma solução milagrosa. A diferença é que é substancialmente mais difícil e desconfortável para uma pessoa aderir ao jejum.

 

Devemos também referir que o jejum intermitente ainda não está amplamente estudado em humanos. A maioria dos estudos que existem são feitos em animais. Os resultados obtidos não são por isso necessariamente extensíveis. Os poucos estudos que existem em humanos demonstram conclusões interessantes. Mas é necessário que se façam mais pesquisas nesta área.

 

Os riscos do jejum intermitente para as pessoas com diabetes

 

O maior risco da prática do jejum para qualquer pessoa, em especial a pessoa com diabetes, é a hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue). Em alguns casos, pode ocorrer hiperglicemia (elevado nível de açúcar no sangue) se as pessoas deixarem de tomar a insulina. Um corte radical na insulina pode levar então à hiperglicemia ou à cetoacidose diabética (queima de ácidos gordos devido à falta de insulina, que desequilibra o pH do sangue e compromete as funções do organismo).

 

A desidratação é outro risco comum. Pode dever-se à não ingestão de líquidos ou ao facto de que alguns medicamentos antidiabéticos são diuréticos (causam necessidade constante de urinar). Por outro lado, a hiperglicemia também aumenta essa necessidade (diurese).

 

Quando a pessoa com diabetes opta por um regime de jejum intermitente constante, ou seja, igual todos os dias, os riscos são menores. Isto porque é mais fácil adaptar a medicação. As versões alternadas do jejum intermitente (em que se faz jejum em alguns dias da semana e noutros não) são mais difíceis de controlar. A possibilidade de erro na toma da medicação acaba por ser muito maior.

Não basta fazer jejum intermitente

Mas só por aderir a um novo regime alimentar, não significa que tenha a tarefa feita! A qualidade da comida consumida nas horas permitidas é fundamental. Para se obterem os melhores resultados deve-se:

 

  • Evitar açúcar e cereais refinados.
  • Comer fruta, vegetais e leguminosas. Cereais integrais, proteínas e gorduras saudáveis (abacate, azeite, salmão). Basicamente, adotar a dieta mediterrânica em todo o seu esplendor.
  • Não petiscar entre refeições. Só assim o corpo queimará a gordura acumulada.
  • Praticar atividade física.
  • Começar por uma versão simples do jejum intermitente. Limitar as horas do dia em que pode comer ao mais cedo possível (das 7h às 15h ou das 10h às 18h).
  • Evite petiscar e, obviamente, comer durante a noite.

 

Consulte o seu médico e nutricionista antes de iniciar a prática do jejum intermitente

 

Como qualquer outro regime alimentar restritivo, o jejum intermitente pode ser perigoso se não for feito corretamente. Para as pessoas com diabetes, esse risco é ainda maior. Por serem mais difíceis de controlar, as variações dos níveis de insulina ou de glicemia (açúcar no sangue) podem ser drásticas. E daí advirem consequências graves.

 

Se está a pensar mudar os seus hábitos alimentares, consulte o seu médico. Só ele poderá avaliar se o jejum intermitente é uma boa opção para si. Caso seja, estabeleçam, em conjunto com um nutricionista, um plano detalhado. Assim aumentará as hipóteses de sucesso. E, claro, poderá garantir a sua saúde!

 

Referências
  • Harvard Health Publishing

  • Verywell Health

  • De Cabo, et al. (2019).

  • National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases

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