O meu filho tem diabetes. E agora?
Ainda que possa ter uma vida como a de qualquer criança ou jovem, tem de lhe explicar a relevância de não descurar o tratamento. E não tenha receio de partilhar o diagnóstico com a família e amigos: esta partilha é um fator de sucesso para o controlo da patologia.
A diabetes mellitus na criança é uma doença crónica que pode surgir «em qualquer idade, nomeadamente em crianças muito pequenas, em idade escolar, na puberdade e na adolescência, sendo que a partir dos 6 meses de idade, é considerada diabetes tipo 1», indica Catarina Limbert, médica pediatra. É o tipo de diabetes «que surge nas faixas etárias mais jovens» e que se caracteriza pela «necessidade de insulina para sobreviver».
Os sinais de alarme incluem «a sede excessiva com necessidade frequente de urinar, apetite excessivo com perda de peso e cansaço extremo sem causa aparente». Atualmente, «já é possível diagnosticar a diabetes tipo 1 antes do aparecimento dos sintomas, através do rastreio de anticorpos contra o pâncreas. Este teste pode ser realizado quando se tem irmãos ou familiares do 1.º grau com diabetes tipo 1».
Após o diagnóstico, estas crianças e jovens são acompanhados num centro de referência de diabetes «por equipas com médicos diabetologistas, enfermeiros especialistas, nutricionistas e psicólogos. Uma educação terapêutica adequada, no que respeita à alimentação, administração de insulina e exercício físico, é o pilar para um bom controlo da doença e uma boa qualidade de vida», refere a médica pediatra.
O seu filho tem diabetes?
O que dizer às crianças e jovens
A diabetes tipo 1 «não deve ser encarada como uma deficiência, uma vez que é colmatada pela toma de insulina», indica. «Hoje em dia, com os análogos de insulina ultrarrápidos, sistemas modernos de administração de insulina e a monitorização contínua do açúcar no sangue, é possível oferecer às crianças e jovens com diabetes uma excelente qualidade de vida. No entanto, é importante os pais incutirem nos filhos a necessidade de administrar insulina antes de cada refeição, pois só com este gesto poderão evitar complicações futuras.»
No fundo, a administração de insulina permite-lhes ter uma vida normal do ponto de vista da escola, amigos, desporto e, mais tarde, familiar e vida profissional», explica a médica pediatra. Os pais devem fazer sentir que «estarão sempre presentes para ajudar, visto que a gestão da doença é complexa e deve ser realizada em equipa».
Sinais de negação da doença
É muito frequente, após o diagnóstico, «haver uma fase de negação e não aceitação. Pode acontecer logo ou ao fim de vários anos, por exemplo, na adolescência», refere Catarina Limbert, sendo «a recusa em fazer insulina, a omissão de que não a administraram ou um desinteresse pela situação» indicadores desta fase. Mas também «os pais podem entrar em negação», acrescenta a médica pediatra, especificando que «delegar muito nos filhos» é um dos sinais da negação. Uma responsabilidade que não pode ficar a cargo das crianças porque «não têm maturidade para assumir este esforço». Para ultrapassar esta fase, a especialista recomenda que «tanto os pais como os filhos devem receber apoio psicológico, pois permite melhores resultados na gestão da doença».
Quando a criança não é autónoma
A autonomia chega «por volta dos 10-12 anos e, até lá, o controlo e a presença dos pais têm de ser contínuos», salienta Catarina Limbert. Este controlo é, hoje em dia, possível de se realizar à distância graças ao mundo digital. Por exemplo, os pais têm a possibilidade de controlar, em tempo real, a glicemia dos filhos, quando estes estão na escola, através de aplicações no telemóvel: basta que as crianças usem para isto, um sensor de monitorização contínua da glicemia». E, perante uma hipoglicemia (níveis de açúcar no sangue abaixo dos 70 mg/dL), «podem telefonar à professora ou à criança para avisar o que está a acontecer e serem tomadas as medidas necessárias».
Como é administrada a insulina
Em Portugal, «todas as crianças até aos 18 anos têm direito à colocação de um sistema de perfusão subcutâneo contínuo de insulina, conhecido por bomba de insulina, que veio facilitar a gestão diária da doença ao permitir a injeção automática de insulina sem necessidade de a criança se picar com a caneta antes de cada refeição». O tratamento só será eficaz se as crianças e os jovens tiverem presentes estes passos: «contabilizar os hidratos de carbono que vão ingerir à refeição, o exercício físico que fizeram ou vão fazer e administrar a dose de insulina necessária sempre antes da refeição».
7 estratégias para uma boa adesão ao tratamento
A médica pediatra Catarina Limbert aconselha os pais a…
- Marcar presença sem controlar demasiado, sobretudo com adolescentes, e a integrar a diabetes na rotina da família.
- Fomentar um regime alimentar saudável e equilibrado, essencial no controlo da doença.
- Promover a prática de desporto, um pilar no controlo e tratamento da diabetes.
- Estimular a adesão às redes sociais, sobretudo a grupos ligados à diabetes.
- Promover a participação em campos de férias para crianças com diabetes.
- Providenciar apoio psicológico quando necessário.
- Dar liberdade aos filhos para manterem uma vida social normal.
Como fazer da escola uma aliada
- Informe a direção da escola, assim como o professor ou educador, que o seu filho tem diabetes tipo 1 e poderá precisar de colaboração para a avaliação da glicemia, administração de insulina, manuseamento da bomba de insulina, contagem de hidratos de carbono e correção de hipoglicemias.
- Partilhe as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS) e da Direção-Geral da Educação sobre crianças e jovens com diabetes tipo 1.
- Indique o material que o seu filho deve ter na escola e levar diariamente (aparelho para avaliação da glicemia e injeção de emergência [GlucaGen] em caso de hipoglicemia grave).
- Ensine o responsável pelo seu filho, na escola, a tratar uma situação de hipoglicemia, a realizar a medição da glicemia e a manusear a bomba de insulina.
- Crie um canal de comunicação rápido com a equipa escolar para casos de emergência.
Adolescentes: álcool, vida sexual e gestão da diabetes
Na adolescência, o consumo de álcool e o início da vida sexual impõem novos desafios e riscos que devem ser discutidos entre pais e filhos.
Bebidas alcoólicas
Ainda que consumidas com moderação, provocam um risco acrescido de hipoglicemia ao diminuírem a capacidade de metabolização dos hidratos de carbono.
- Explique que o ideal é evitar o consumo de bebidas alcoólicas, mas, caso beba, deve fazer uma refeição completa ao jantar, para atrasar a absorção do álcool.
- Explique a importância da ingestão regular de hidratos de carbono complexos (como massa integral) ao longo da noite e antes de dormir, além de avaliar regularmente a glicemia.
- Se o adolescente sair com amigos, reforce a necessidade de ter sempre a identificação com a situação clínica e quem contactar em caso de necessidade.
Vida sexual
O foco deve ser a prevenção de comportamentos sexuais de risco que tenham como consequência a gravidez precoce ou infeções sexualmente transmissíveis.
- Alerte para os riscos (aborto espontâneo, anomalias fetais, pré-eclâmpsia, morte fetal, hipoglicemia neonatal) de uma gravidez quando a diabetes não está bem controlada.
- Explique a importância do uso de contracetivos para evitar não só uma gravidez indesejada como, no caso do preservativo, infeções sexualmente transmissíveis, e ajude a assegurar o acesso aos mesmos.
Revista Prevenir