O que é o glucagon e para que serve?
Se a insulina é a hormona da diabetes por excelência, o glucagon não pode anda muito distante, tal a sua importância. Percebê-lo é entender não só isso, como o seu importante papel, por exemplo nas hipoglicemias.
A insulina é possivelmente a hormona mais conhecida para qualquer diabético. Se calhar, é até a hormona mais conhecida de todas as hormonas que o nosso corpo produz. Afinal, ela é a principal responsável por controlar os níveis de glicemia no nosso organismo. Mas engana-se se pensa que ela o faz sozinha. Várias outras substâncias e órgãos do corpo ajudam nesse desafio. Uma dessas substâncias, é o glucagon.
O que é o glucagon?
O pâncreas, o órgão da diabetes por excelência, é um órgão muito especial. É uma glândula, o que significa que tem a capacidade de produzir várias substâncias com inúmeras funções corporais. Numa das suas porções, o pâncreas funciona como uma glândula endócrina – produz substâncias, como as hormonas, que vão depois entrar na corrente sanguínea e serem levadas para os locais onde realizam as suas funções. Uma dessas hormonas é o glucagon.
Tanto a insulina como o glucagon são produzidos por um grupo de células da porção endócrina do pâncreas chamados de ilhéus de Langerhans (que devem o seu nome ao homónimo médico alemão que os descobriu no século XIX). Nos ilhéus existem vários tipos de células: as células beta são a fonte da insulina, enquanto as células alfa são a fonte do glucagon.
Para que serve?
A insulina e o glucagon têm muitas funções, sendo uma das mais importantes o controlo da glicose no organismo. No corpo, a regulação mais importante das transições entre jejum e refeição (e vice-versa) é feita por essas duas hormonas que o pâncreas produz.
Como se divide o glugagon
O mecanismo pelo qual o glucagon dá a sua contribuição para isto é muito importante. Pode ser dividido em 3 partes e o que acontece é seguinte:
- Aumento da gliconeogénese;
- Crescimento da quebra de glicogénio;
- Aumento da produção de cetonas.
Como funciona o glucagon
O glucagon funciona como uma hormona oposta à insulina. Sempre que a glicose está diminuída no corpo (alturas de jejum), a produção de glucagon aumenta. Isto quer dizer que, neste período, o principal estímulo de produção de glucagon é a hipoglicemia (quantidade baixa de açúcar no sangue). Isto vai ser importante mais à frente. Nesta altura, cabe então ao glucagon informar o fígado – um órgão bastante complexo, capaz de muitas coisas – de que é necessário aumentar a sua produção. A este fenómeno chama-se gliconeogénese, que basicamente é a produção de glicose a partir de outras substâncias.
Glicogenólise: o que é
Para além disso, também se dá um outro fenómeno chamado de quebra do glicogénio, ou glicogenólise. As células do fígado, durante a altura em que, via alimentação, a glicose está a entrar no organismo, captam e acumulam reservas de glicose. Essas reservas são chamadas de glicogénio. Assim, quando o glucagon entra em ação, o que acontece é que, pela falta de glicose, o glucagon está a informar o fígado de que é necessário utilizar essas moléculas. Então, o fígado volta a libertá-las na circulação sanguínea.
A terceira das consequências naturais do aumento do glucagon, é que o fígado acaba também por aumentar a produção de cetonas. Mas não é caso para alarme porque, claro, tudo isto acontece ao contrário também: sempre que a glicose está em concentrações elevadas (na altura em que nos alimentamos, por exemplo), o glucagon vai deixar de ser produzido pelo pâncreas, enquanto que a insulina estará em concentrações elevadas, e as cetonas deixam de ser produzidas e acabam por ser eliminadas. Tudo está em equilíbrio.
O glucagon e a hipoglicemia
Como já percebemos, a relação entre o glucagon e a glicemia é direta: sempre que esta se encontra baixa, hipoglicemia, esta hormona é produzida pelo corpo fazendo com a mesma glicemia acabe por aumentar.
A hipoglicemia normal, que advém dos momentos de jejum, por exemplo, não representa nenhum problema. No entanto, nos doentes diabéticos o aumento e a diminuição da glicemia são pronunciados, podendo levar a episódios hipoglicémicos bastante graves. Estes episódios são mais comuns na diabetes tipo 1, mas podem acontecer na diabetes tipo 2 também, principalmente a pessoas que façam terapêutica com insulina.
A maior parte das vezes, essas hipoglicemias tratam-se com um snack doce, uma bebida ou um pouco de açúcar, por forma a repor os valores em falta. Mas para tratar hipoglicemias severas, pode ser que tenha de levar uma injeção de glucagon. Estes kits de emergência, prescritos pelo médico, contêm a hormona e o material para a administrar, e a sua utilização deve ser explicada também às pessoas que vivem com o doente para que possam ser elas a aplicar, se necessário.
É importante que conheça estes pequenos conceitos que fazem toda a diferença na gestão da sua doença. Assim, poderá entender cada vez melhor os mecanismos que estão por detrás da diabetes e aplicar no seu dia a dia essas ideias – afinal, um doente mais informado pode ser também um doente mais controlado.
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Vander, Sherman & Luciano (2006)
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
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