O risco de infeções e a diabetes
As infeções são mais comuns nos doentes diabéticos. Por isso, é importante perceber o que são, como se relacionam com a diabetes e porque prevenir é tão importante.
Além das complicações conhecidas, a diabetes tem vindo a ser associada também a um maior risco de infeções no geral e das complicações a elas associadas. Mas afinal, qual a relação entre as infeções e a diabetes? E o que é mesmo uma infeção?
O que são infeções?
O corpo humano é um verdadeiro «hospedeiro» de microorganismos e materiais estranhos. E, por isso mesmo, tem um mecanismo incrível pelo qual diferencia o que o que é próprio ao organismo e o que não é. Quando o organismo é «invadido» por microorganismos ou agentes capazes de causar doença dizemos que há uma infeção e é, nesse momento, que o mecanismo de defesa do organismo é ativado para «lutar» pela nossa saúde.
Por outro lado, sabe-se que a saúde e os processos utilizados pelo sistema imunitário podem ser menos eficazes devido à diabetes.
O risco de infeções e a diabetes
Parece que há uma relação clara entre os mecanismos fisiológicos do sistema imunitário de resposta às infeções e a diabetes. O que se sabe até agora é que:
- Um ambiente hiperglicémico, ou seja, onde a quantidade de açúcar no sangue está constantemente elevada, aumenta a virulência de alguns agentes patogénicos;
- Na resposta à infeção, os doentes diabéticos produzem menos certo tipo de substâncias que são importantes;
- Quando a infeção ocorre, há um menor número de células, e outras importantes substâncias que fazem parte da resposta inflamatória que acorre ao local da infeção. E menor produção de alguns leucócitos (ou seja, glóbulos brancos) importantes, também;
- O facto de haver glicose na urina (glicosúria) e,maior incapacidade de movimentos gastrointestinais e urinários, parece contribuir para a prevalência das infeções.
A diabetes aumenta o risco de infeção
Por tudo isto, sim, a diabetes aumenta o risco de infeções. As mais comuns estão bem identificas e passam muitas vezes por:
- Infeções do ouvido, nariz e garganta: os sintomas são muitas vezes de dor intensa no ouvido e descarga de secreções auriculares, que parecem cera.
- Infeções do trato urinário: sendo a diabetes não controlada uma das suas principais causas. Estas infeções são causadas por micro-organismos como a Escherichia coli, a Klebsiella, os Enterococcus ou a Candida albicans. Além destas, são ainda comuns as infeções da bexiga.
- Infeções da pele e dos tecidos moles: havendo um maior risco de feridas e infeções nas pernas e pés (pé diabético), com consequências muitas vezes graves, quando o problema não é tratado, levando mesmo a amputações.
Hoje sabemos ainda mais, sabemos até que existem infeções que afetam quase em exclusivo pessoas com diabetes – são o caso da otite externa maligna, das infeções fúngicas da garganta e do nariz, como a mucormicose rinocerebral (uma infeção fúngica que provoca lesões invasivas no nariz e no palato) e da colecistite gangrenosa (uma infeção grave da vesícula biliar).
O problema das infeções nos doentes diabéticos é ainda outro: não só a diabetes é um fator de aparecimento das mesmas, como elas próprias vão depois agravar algumas complicações que naturalmente já existem na doença, como a hipoglicemia (quantidade muito baixa de açúcar no sangue), a cetoacidose (a presença de acidez anormal no organismo que despoleta inúmeros problemas) e até o coma diabético, por exemplo.
E o que devemos fazer para prevenir
As boas notícias é que muitas destas infeções são evitáveis se o doente diabético adotar alguns comportamentos-chave, alguns deles certamente já rotineiros, a saber:
- Manter sempre os níveis de glicemia (a quantidade de açúcar no sangue) controlados, através da alimentação, exercício físico, bem como a medição regular dos valores;
- Fazer sempre a medição glicémica de acordo com a recomendação médica;
- Manter uma correta etiqueta respiratória: lavar bem e frequentemente as mãos, especialmente depois de ir à casa de banho, assoar o nariz, antes e depois das refeições, por exemplo e espirrar ou tossir para o cotovelo;
- Nunca emprestar a caneta de insulina a ninguém (se usar esse tratamento);
- Tomar todos os anos a vacina da gripe e manter o restante boletim de vacinação em dia;
- Usar calçado confortável e leve, assim como usar meias limpas diariamente e examinar os pés com regularidade;
- Procurar logo tratamento médico se se lesionar ou ferir.
E na infeção pelo novo coronavírus?
Na infeção pelo novo coronavírus, toda a evidência até agora mostra que, os diabéticos são um grupo de risco com uma maior taxa de mortalidade registada (9 % das mortes). E, por isso, apesar de ser importante que estejam ainda mais atentos para a prevenção da doença, não há qualquer evidência de que sejam mais atreitos a ser infetados pelo novo coronavírus.
Isto é, com a diabetes bem controlada, os diabéticos têm exatamente a mesma probabilidade de virem a ter COVID-19 do que a restante população. Também não há registo de diferenças entre infetados na diabetes tipo 1 e na diabetes tipo 2.
Em síntese, mais investigação é necessária para clarificar todos os mecanismos que levam a que as infeções e a diabetes tenham uma relação tão estreita. Entretanto é muito importante que continuem, e sejam reforçadas, as medidas que visam vacinar os doentes diabéticos contra o vírus da gripe (entre outros).
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Vander, Sherman & Luciano (2006)
Casqueiro, J et al., 2012.
Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology (APIC)
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