Porque é que o stresse aumenta a glicemia?
É certo e sabido que o stresse aumenta os níveis de açúcar no sangue. Mas como? Hoje vamos explicar de que forma isso acontece.
O stresse, quer seja físico ou psicológico, tem efeitos no nosso organismo. Situações stressantes são «ameaças» ao bem-estar e, por isso, o nosso cérebro interpreta o stresse como uma crise, criando estratégias para ultrapassar essa situação. São chamadas situações de fight or flight, como quem diz (estrangeirismos à parte) luta ou fuga. Mas de que maneira o stresse aumenta a glicemia?
Ao aperceber-se de uma situação stressante, o nosso cérebro envia sinais ao resto do corpo através de 2 sistemas, ambos com nomes estranhos: o sistema endócrino e o sistema nervoso simpático. Tanto um como o outro libertam hormonas que fazem com que a pressão arterial aumente, o coração bata mais rápido e subam os níveis de açúcar no sangue: esta é a forma do corpo estar mais alerta e ter mais energia disponível para situações de perigo.
Compreender os mecanismos pelos quais o stresse aumenta a glicemia
Sistema endócrino e o seu papel no organismo
O sistema endócrino é formado por várias glândulas que produzem hormonas, responsáveis por regular funções vitais do nosso organismo como a fome, a sede, ou a temperatura corporal. O hipotálamo, a hipófise e as supra-renais são glândulas do sistema endócrino que respondem às situações de stresse.
O hipotálamo, situado no nosso cérebro, envia um sinal hormonal para a sua vizinha hipófise. A hipófise, por sua vez, liberta uma outra hormona, chamada corticotrofina (ou ACTH), que estimula as glândulas supra-renais (situadas por cima dos rins) a libertar a «hormona do stresse», chamada cortisol.
Como é que o cortisol aumenta a glicemia?
O cortisol vai dar início a 2 processos no fígado (mais uma vez, com nomes estranhíssimos):
- Glicogenólise: consiste na utilização das reservas de glicose que o fígado guarda para situações de emergência (como, por exemplo, o jejum prolongado);
- Gliconeogénese: o mecanismo que o fígado utiliza para produzir nova glicose, caso as reservas não sejam suficientes.
Desta forma, quando há uma situação de stresse, o cortisol libertado provoca hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue) ao estimular o fígado a utilizar as suas reservas e produzir mais açúcar.
O que faz o sistema nervoso simpático?
O sistema nervoso simpático é uma parte do sistema nervoso que responde a estímulos stressantes. Tal como a hipófise, o sistema nervoso simpático também envia um sinal às glândulas supra-renais, desta vez para libertarem 2 outras hormonas: a adrenalina e a noradrenalina. Ambas vão aumentar o açúcar no sangue da seguinte forma:
- Promovem a secreção de glucagon, uma hormona produzida pelo pâncreas que aumenta os níveis de açúcar no sangue;
- Diminuem a libertação de insulina pelo pâncreas, a hormona que faz com que as células consigam usar o açúcar que circula no sangue para obter energia. Se não houver insulina, a glicose acumula-se no sangue e pode ocorrer uma hiperglicemia;
- Impedem a entrada da glicose nas células em si.
A importância de gerir o stresse
Numa situação de stresse normal, a subida dos níveis de açúcar no sangue é compensada por um esforço do pâncreas em produzir ainda mais insulina. Desta forma, a glicemia normaliza.
Mas, na diabetes, como existe uma diminuição da quantidade de insulina disponível ou uma diminuição da sua eficácia, esta compensação não é totalmente feita. Estudos recentes demonstram que as pessoas com diabetes estão mais suscetíveis à ansiedade e ao stresse, pelo que é de extrema importância saber lidar com estas situações, de maneira a manter o controlo glicémico e prevenir complicações da doença.
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